Herta Muller recebeu o prémio nobel da literatura no passado dia 10 de Dezembro em Estocolmo. O prémio fora anunciado em 8 de Outubro. Os seus dois romances que tinham sido traduzidos em Portugal encontravam-se esgotados nessa altura e só um mês mais tarde foi reeditado pela Difel o romance A Terra das Ameixas Verdes. Foi então que o comprei. Só agora acabei de o ler. Sou lenta.
Gosto da escrita da Herta Muller. É uma prosa, com alguma frequência, com características poéticas, frases curtas organizadas em pequenas sequências, e um processo narrativo que se desenrola como se abre uma boneca matriosca russa. Em cada sequência, surgem novos pormenores da história - do passado, do presente ou do futuro - e é assim, abrindo-se o invólucro de cada acontecimento e descobrindo lá dentro outro, que se vai desenrolando a história. Muito engraçado!
A história passa-se na Roménia de Ceausescu, a dita comunista, recheada de processos de perseguição, de assassinatos (o Ditador fazia cemitérios, o Capitão Pjele fazia cemitérios, os cemitérios são a metáfora preferida para a eliminação humana em larga escala), de fugas do país e de mortes em fuga, da violação de correspondência, dos cabelos colocados nas cartas para detectar a violação, dos livros escondidos, das casas escondidas, dos amigos encontrados às escondidas, enfim, quem viveu num regime fascista conhece ou ouviu falar de tudo isto. A clandestinidade permanente, a mentira permanente, o «atormenta-galinhas» permanente.
E as ameixas verdes que todas as personagens colhiam das árvores e comiam, as ameixas verdes que embriagavam e corroiam os corpos, faziam parte da autodestruição, talvez desejada, talvez inevitável, pelo menos sempre presente nos olhos da narradora.
Tenciono ler mais romances de Herta Muller.
Este livro descreve uma dura realidade que infelizmente ainda acontece em algumas partes do globo. Gostei bastante da obra.
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