Reflexões & Actualidades - cinema, política, literatura, música, teatro, eventos, vivências,...
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
«Saí do comboio», de Álvaro de Campos
Saí do comboio,
Disse adeus ao companheiro de viagem,
Tínhamos estado dezoito horas juntos.
A conversa agradável,
A fraternidade da viagem,
Tive pena de sair do comboio, de o deixar.
Amigo casual cujo nome nunca soube.
Meus olhos, senti-os, marejaram-se de lágrimas...
Toda despedida é uma morte...
Sim, toda despedida é uma morte.
Nós, no comboio a que chamamos a vida
Somos todos casuais uns para os outros,
E temos todos pena quando por fim desembarcamos.
Tudo que é humano me comove, porque sou homem.
Tudo me comove, porque tenho,
Não uma semelhança com ideias ou doutrinas,
Mas a vasta fraternidade com a humanidade verdadeira.
A criada que saiu com pena
A chorar de saudade
Da casa onde a não tratavam muito bem...
Tudo isso é no meu coração a morte e a tristeza do mundo,
Tudo isso vive, porque morre, dentro do meu coração.
E o meu coração é um pouco maior que o universo inteiro.
4/7/1934
Álvaro de Campos, Poesia, edição de Teresa Rita Lopes, Assírio & Alvim, 2002
Esta poesia foi magnificamente dita («falada») por Elisa Lucinda, no RECITAL À BRASILEIRA, que teve lugar na Casa Fernando Pessoa, no dia 03-12-2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário