segunda-feira, 28 de junho de 2010

Uma maratona ciclópica na Casa Fernando Pessoa



  Tratou-se, de facto, de uma maratona ciclópica a que teve lugar na sexta-feira passada (dia 25 de Junho) na Casa Fernando Pessoa. Durante 15 horas, leu-se, integralmente, a obra  O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago.
  A leitura começou por volta do meio-dia, após a chegada de Pilar del Rio, apenas com uma curta interrupção de António Costa para anunciar o lugar onde irão ser colocadas as cinzas de José Saramago (no jardim defronte da Casa dos Bicos, em Lisboa) e o epitáfio que irá ficar escrito na pedra de Pêro Pinheiro que cobrirá as cinzas (« Não subiu para as estrelas, se à terra pertencia » - as últimas palavras de O Memorial do Convento).



 Como um fio que não cessa de enrolar enquanto o novelo não termina, a leitura desenrolou-se sem parar, feita por escritores  e por todos aqueles que se inscreveram para participar e ler. Por vezes com a sala cheia, outras vezes com público mais reduzido, a cadeia de leitura processou-se, ignorando horas de refeições, transmissão de jogos de futebol (Portugal/Brasil decorreu durante a tarde) e muitos cansaços ( Inês Pedrosa e Pilar del Rio não deviam estar pouco cansadas).
  Foi uma homenagem a José Saramago de uma generosidade espantosa!
  Desde «Aqui o mar acaba e a terra principia.» até «Aqui, onde o mar se acabou e a terra espera.», leram-se 415 páginas, de seguida, num bom ritmo, de forma mais ou menos expressiva, mas sempre sem perder o fôlego.



    Sem conversas, só leitura! Parabéns à extraordinária organização da Casa Fernando Pessoa!

A morte de Saramago em alguns títulos de jornais

Saramago não queria ficar no Panteão

Vestido vermelho com versos de Saramago na despedida

Não há palavras, Saramago levou-as

O homem que veio do povo e lhe foi fiel

Três paixões e as outras mulheres de um escritor

Da infância pobre ao mestre inesquecível

Um escritor do mundo

E assim vai Saramago para o céu

Espanhóis foram mais atentos ao funeral

O povo despediu-se do seu escritor


segunda-feira, 21 de junho de 2010

José Saramago - a morte sem intermitências


É assim a vida, vai dando com uma mão até que chega o dia em que tira tudo com a outra.



As mortes de cada um são mortes por assim dizer de vida limitada, subalternas, morrem com aquele a quem mataram, mas acima delas haverá outra morte, aquela que se ocupa do conjunto dos seres humanos desde o alvorecer da espécie.



Somos testemunhas fidedignas de que a morte é um esqueleto embrulhado num lençol, mora numa sala fria em companhia de uma velha e ferrugenta gadanha que não responde a perguntas, rodeada de paredes caiadas ao longo das quais se arrumam, entre teias de aranha, umas quantas dúzias de ficheiros com grandes gavetões recheados de verbetes.



A morte apareceu à luz do dia numa rua estreita, com muros de um lado e do outro, já quase fora da cidade.

A morte nunca dorme.

(Citações do livro As Intermitências da Morte , de José Saramago)



Ontem, pelas 12h 30m, saiu a urna de José Saramago dos Paços do Concelho em Lisboa para o cemitério do Alto de S. João. As pessoas, na praça, gritavam - Obrigado, José Saramago! Eu estava entre elas.