sábado, 30 de julho de 2011

NORUEGA - uma democracia exemplar

                                           publico.pt - fotografia de Stoyan Nenov/Reuters


  Muitos são os países cujos governos reclamam a democracia como forma de regime. Mas quantos, perante atos terroristas como os que sucederam recentemente na Noruega, reagiriam como este país e este governo?
  Sete dezenas de jovens noruegueses, entre os 14 e os 18 anos, foram barbaramente assassinados, à traição, a sangue frio, por um louco da extrema direita que odeia os imigrantes, os islâmicos, e que, assim, quis punir e flagelar o seu povo e a democracia norueguesa.
  E qual foi a reação do povo e do governo? Não tem sido o ódio, nem o desejo de vingança, nem a raiva retaliadora que têm norteado os depoimentos, as atitudes, as decisões ou os discursos governamentais.
  A resposta ao terrorismo e ao fanatismo da extrema direita tem sido dada com mais democracia e com maior tolerância em relação ao multiculturalismo, às diferenças religiosas e raciais. A primeira grande cerimónia fúnebre de homenagem às vítimas dos ataques terroristas foi realizada na maior mesquita de Oslo. Não poderia haver resposta mais democrática|
  Eu, que não consigo deixar de sentir ódio pelo execrável terrorista (o primeiro ministro norueguês recusa referir-se-lhe pelo nome, não serei eu que o farei), espanto-me com a tolerância, mas admiro verdadeiramente esta atitude democrática e penso que a Noruega vai ficar na História como o primeiro país que reage democraticamente a um bárbaro ato terrorista.



sábado, 16 de julho de 2011

A SOBRETAXA EXTRAORDINÁRIA (o novo imposto) - e os JUROS e os DIVIDENDOS ficam de fora?!

publico.pt


  Uma sobretaxa extraordinária em sede de IRS, um pagamento até 23 de dezembro de 2011 pelos trabalhadores dependentes e pelos pensionistas e, em 2012, pelos trabalhadores independentes e os recibos verdes, foi apresentado ao país pelo Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, no passado dia 14 , 5ª feira.
 A performance do ministro parece-me, neste momento, secundária. A lentidão e as hesitações vocais serão, seguramente, ultrapassadas com a rodagem que se seguirá.
 O que me abismou na apresentação deste novo imposto foi o facto dos juros dos grandes depósitos bancários e os dividendos das grandes empresas distribuídas pelos acionistas ficarem isentos de qualquer pagamento. 
 Apetece dizer - «QUE GRANDE LATA !!»
  O regime é capitalista, certo. Mas os tempos são de pré bancarrota e a mudança das regras económicas é necessária necessária !!
  Marques Mendes, personalidade do PSD, criticou logo no dia seguinte na TVI24 este absurdo.Que é de um absurdo que se trata !!
  O dirigente sindical Carvalho da Silva criticou o imposto dizendo que o capital fica de fora. Mas a palavra marxista capital é hoje uma palavra vaga, oca. Ninguém fica a saber realmente o que está mal neste imposto. Os dirigentes sindicais têm que ser concretos e apontar os erros em particular. É tempo de abandonar essa terminologia teórica e distante que o povo não entende !!
  Um tal analista e economista Eugénio Rosa, que agora é muito chamado para debates televisivos, entretém-se a lançar poeira para os auditórios, alertando para o desastre económico iminente e defendendo as poupanças. Que poupanças? As poupanças de quem trabalha ou os grandes depósitos de milhar ou de milhões de euros que resultam de heranças ou da especulação com toda a espécie de origens? Parece-me que o que interessa mesmo a este tipo de comentaristas é confundir, amortecer o povo. E o povo, quando questionado nas ruas pelas televisões diz, ingenuamente, que «Tem que ser!», «Tem que se ajudar o país!» Pois é, mas há os que não têm que ajudar o país ...
  É fácil enganar o povo!
  Telmo Correia do CDS disse ontem num frente-a-frente na Sic Notícias que os portugueses votaram numa maioria que defende os grandes depósitos bancários e, portanto, é natural que o governo os defenda.
  QUE LATA! QUE GRANDE LATA!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

HADEWIJCH, de Bruno Dumont - os mistérios da obsessão crística




  Céline sobe, torturada, uma encosta verdejante próxima do convento onde vive e dirige-se, especificada, para um oratório onde se encontra a imagem de Cristo cruxificado e que se situa no cimo dessa encosta.  Frente ao oratório, fala com Cristo, em sofrimento, como uma pessoa que vive desesperada.
 No convento, Céline não come, mortifica-se, de tal modo que a madre superiora, atenta e sensata, a obriga a abandonar o convento e a procurar Cristo na vida real.
  No entanto, na vida real, Céline pertence a uma família da alta burguesia parisiense, é filha de um político que pouca ou nenhuma atenção presta à família e de uma mãe deprimida e silenciosa. Uma família sem afetos e onde domina a solidão.
  Num bar de Paris, Céline conhece um grupo de jovens muçulmanos e entra num relacionamento com Yassine. Porém, Céline define uma relação. Relações sexuais não terá com homem algum, a paixão de Céline é por Cristo e para ele se reserva.
  Yassine tem um irmão, Nassir, um teólogo limpoo, militante da causa palestiniana. Entre Céline e Nassir estabelecem-se convergências, uma religiosidade liga-os, compreendem-se nas paixões.
  Para Nassir, como pessoas de fé são «soldados de Deus que vivem para repor a justiça no mundo». Céline deixa-se convencer e presta-se ao sacrifício.
 Hadewijch  era o nome de uma religiosa mística de Antuérpia que viveu no século XII e escreveu um «Livro de Visões». Hadewijch   é também o nome do convento onde Céline se recolhe para viver a sua fé. 
  Céline, a Hadewijch do século XXI, volta ao convento onde continua, desesperada, a perseguir a sua obsessão crística.

  Este filme coloca-nos interrogações sobre a fé vivida de forma fundamentalista, sobre as razões que a originam - a falta de afeto (Céline), a injustiça (Nassir).
  Em Hadewijch  , uma religião cristã e a islamita compreendem-se nos seus excessos, nas suas excentricidades - um paralelismo a não esquecer!

 

terça-feira, 5 de julho de 2011

VIAGEM A PORTUGAL, de Sérgio Tréfaut - uma burocracia acéfala

fotografia do dn.pt

  No aeroporto de Faro, no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, uma mulher ucraniana vê-se detida pela polícia por chegar a Portugal com um visto turístico e não um visto de residência (vinha visitar o marido, um negro nigeriano que fizera o curso de medicina em Kiev).
  Inicialmente, a investigação parece legítima - poderia tratar-se de mais uma ucraniana seduzida por uma máfia qualquer para ser explorada como prostituta em qualquer bar de alterne como acontece com frequência. Mas o que se torna revoltante na história é que, verificado o engano e as razões honestas da viagem a  Portugal da mulher ucraniana, como humilhações e o tratamento indigno para qualquer ser humano continuado por parte da mulher polícia chefe e dos «vendilhões» daquele «Templo »(A ucraniana era médica, casada, de facto, com um médico nigeriano que era imigrante em Portugal).
  Maria de Medeiros desempenha magnificamente o papel da ucraniana e Isabel Ruth, a detestável mulher-polícia, tem também uma representação espantosa.
  Em cenários minimalistas e com meios visivelmente reduzidos, Sérgio Tréfaut conta e filma magistralmente esta história que se baseia em factos reais passados ​​em 1998.
  A imagem desse Portugal é má e mostra uma burocracia acéfala, que não se ajusta a situações inesperadas nem entende razões humanas fora dos estereótipos legais e uniformes.
 Seria importante que os portugueses (e não só!) Vissem o filme e refletissem!