domingo, 28 de fevereiro de 2010

O que quer Deus (Hashem) de «Um homem sério»? O filme de Ethan e Joel Coen

(publico.pt)

  O filme «Um Homem Sério», de Ethan e Joel Coen (os irmãos Coen) é um filme de um humor excepcional sobre a vida de uma família de judeus, inseridos numa comunidade judaica. E sobre um professor de Matemática (Judeu) de uma universidade americana, Lawrence Gopnik, que ensina o Princípio da Incerteza de Heisenberg (o gato ou está morto ou não está morto) e a quem um aluno coreano quer subornar para obter uma nota alta num exame e continuar a receber a sua bolsa de estudo.
  Logo no prelúdio do filme, uma grande máxima aparece no écran: Recebe com felicidade tudo o que pode acontecer. E esta máxima vai ser o grande motor do filme.
  Na primeira parte do filme, toda a espécie de contrariedades acontecem a Larry Gopnik, desde a mulher que, inesperadamente, lhe exige um divórcio ritual (gett) para poder casar com um vizinho e amigo da família até à situação absurda de ter que pagar o funeral deste mesmo amigo-traidor, quando, por ironia, ele falece num acidente de automóvel.
  De rabino em rabino, Larry Gopnik quer saber por que razão é que Deus o castiga com tanta infelicidade, mas os rabinos são evasivos ou respondem-lhe com a pergunta de retórica: o que quererá Deus de ti? Mas mesmo no maior desespero, o professor de Matemática mantém-se um homem sério e não aceita o suborno.
   De repente, tudo se inverte e, quer famíliar quer profissionalmente, todas as situações começam a ser-lhe favoráveis. (O gato não está morto.) É, no entanto, breve a felicidade...
  Fica a pergunta: «Quando a verdade se revela uma mentira e toda a esperança morre dentro de ti, o que fazes?» O mais sábio, parece ser a lição do filme, é receber com alegria tudo o que acontecer, mesmo o mais absurdo. 
    


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Jardim já não quer «brincar à porrada com a Natureza»

(Correio da Manhã)


  O Dr. João Jardim disse, há alguns dias atrás, a propósito da reconstrução de uma estrada na Ilha da Madeira que ficara totalmente destruída com a tempestade catastrófica que assolou a ilha no dia 20 deste mês, que já estava farto de brincar à porrada com a Natureza.
  Começo a pensar numa possível reconciliação com Jardim. Uma afirmação destas significa reconhecer as culpas e ter vontade de mudar a sua atitude perante a facilidade e o imediatismo da construção, perante os interesses económicos de alguns, o primado do turismo, etc. Significa ter vontade de mandar fazer estudos ambientais, de planificar, de programar uma reconstrução racional.
  Não tenho ouvido os representantes do Governo da República falar deste modo após os desastres ambientais que se têm sucedido, com alguma frequência, no continente.
  Jardim quer que a ilha da Madeira seja um jardim, que atraia turistas, que não afaste os habituais cruzeiros que fazem escala no Funchal. Parece-me um nobre desejo, que só vem salientar o seu empenhamento no bem-estar económico dos madeirenses. Se a não declaração de calamidade não afectar a reconstrução de todas as casas, nem a indemnização de todos os que foram realmente prejudicados, ricos e pobres, para quê acentuar a tragédia e afugentar turistas?
  E se o Dr. João Jardim é capaz de mudar os seus ódios políticos, às vezes bastante primários, quando reconhece atitudes de generosidade, então, teremos que prestar atenção a este cidadão português que é muito menos maluco do que sempre pareceu.


  

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Um poema (excerto), de Gonçalo M. Tavares



Sem ARROZ não há filosofia, portanto o arroz é a filosofia,
são as ideias, as teses, os argumentos, as Palavras.
Tudo o que se escreve não se escreveria se não fosse tanto o
arroz como a irmã alface a irmã carne do lombo e o irmão peixe.
Portanto: tudo o que se escreve, não é alguém que escreve,
mas o arroz.
Uma fórmula síntese:
o arroz, esse incansável escritor! O Trigo, o pão, e outros
incansáveis escritores.
Outra síntese: Foi o Trigo que escreveu tudo: desde Homero
até BHAGAVAD-GUITA até Joyce e até sempre.
A princípio não era o Verbo, era SIM o Trigo, o Arroz.
Sem arroz não há verbo.
Há primeiro Fome e depois Morte, apagamento súbito.
E os Mortos não escrevem, ou se escrevem não se vê.
Porque os alimentos são, acima de tudo, os maiores amigos;
morrem, a cada dia, por nós: o ARROZ é, pois, o grande sacrificado.
E a alface, por exemplo.


Investigações.Novalis, de Gonçalo M. Tavares



sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Do lado de cá, via-se assim

Na terça-feira de Carnaval, da vila da Fuzeta, via-se a ilha e a barra aberta no dia anterior tal como mostram as fotografias (só hoje consegui colocar no computador).




Na fotografia a seguir, há uma novidade. Pois é, já há restrições para os cães na Fuzeta. Era o único sítio do país onde os cães andavam à vontade, tão livres como as pessoas. O Scotty, o cão do propretário do Capri, todos os dias vai, sozinho, tomar banho à ria. Isto é, sai do restaurante que fica situado no Largo da vila e, atravessando ruas e estradas, dirige-se à ria e desfruta do seu prazer diário. Fiquei a saber que, depois de serem colocadas estas tabuletas, mudou o seu horário de banho, passou a ir mais tarde, depois das pessoas se terem retirado (foi o dono que me disse.) Cão muito inteligente!

 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O mar abriu nova barra na ilha da Fuzeta

  Abriu uma nova barra na ilha da Fuzeta. Nova parece que não é bem assim. Esta barra já existiu há umas décadas atrás. E o próprio mar que a abriu encarregou-se de a fechar, bem como outras duas que já estiveram abertas (são as chamadas «barras divagantes») .
  Hoje, o espectáculo era para não esquecer. Via-se o mar, em directo da vila da Fuzeta! Ondas enormes, fabulosas, ali, a olho nu.(Claro que com uns binóculos seria ainda melhor.) E um promontório como nas pinturas. Está-se a ver onde é que os fuzetences passaram a tarde, mesmo com uma razoável ventania, ameaças de chuva e a ria de uma cor verde acastanhada. Especados frente à ria, com binóculos ou não, a olhar para a ilha. O bar da «praia dos tesos» estava cheio de gente. (Parece que qualquer dia qualquer «teso» pode ter uma fabulosa praia mesmo ao pé! E eu não me importo nada.)
  A natureza está a agir, a mudar a ilha e agora só é necessário que o Ministério da Marinha faça diligências para que os escombros das casas destruídas sejam removidos, bem como todos os objectos danosos que por lá andam. E que nunca mais deixem construir lá casas! Apenas estruturas de apoio em madeira, como snackbares e sanitários, que após o Verão possam ser desmontadas.
  Que danos toda esta destruição pode ter causado e vir ainda a causar na fauna marinha era um assunto que devia ser discutido publicamente. 






domingo, 14 de fevereiro de 2010

Dois poemas de amor do poeta árabe Ibn `Ammâr


À bem-amada

Minha alma quer-te
Ainda que haja nisso tortura
E sigo-te na ânsia da procura.
Que estranho ser difícil nossa ligação
Se os desejos ambos concordam!
Que quereria mais meu coração
Quando amargurado te buscou em vão
E meus olhos te viram e amaram?
Allah bem sabe que não há razão
De vir aqui senão para te encontrar
Como desejo que o vigia não esteja
Em nosso encontro
Para os teus lábios doces eu provar
Para folgar no jardim da tua face
Para beber do copo de langor
Que teus olhos oferece.

O servidor do vinho

Gostei dele quando serviu o vinho
No salão, era como uma lua ao redor de um planeta
Seu movimento derramava perfume
Que o seu próprio odor humedecia
Qual terno ramo tocado pelo vento leste.
Anda, vai levando a taça de vinho
Com dedos da açucena
E seus olhos de narciso faz girar.


 ( poemas retirados do livro Itinerários da poesia - poetas árabes no Gharb al-Ândalus, de Mostafa Zekri)

  Ibn`Ammâr nasceu em Silves e foi um ilustre poeta e governador dessa cidade. Morreu em 1084.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

«Tudo pode dar certo» (Woody Allen) quando se aceitam as diferenças!


  Woody Allen ressuscitou! A comédia Whatever works, mais uma vez passada em Manhattan, é a história de um físico, de renome, visto que se candidatou ao prémio Nobel, embora não ganhasse, hipocondríaco, divorciado, falhado até no suicídio, que vivia no seu bairro novaiorquino, criticando de forma cáustica tudo e todos, em mesas de bares e tabernas com alguns amigos igualmente frustrados.
  No entanto, os acasos, que têm um papel determinante no filme, vão esculpir uma nova vida  para este físico e para todos os que, assumindo as suas diferenças, e aceitando os outros como seres diferentes, entram na sua roda social.
   Uma jovem recém-chegada a Nova Yorque, sem casa nem dinheiro, pede-lhe para pernoitar em sua casa e o seu acto solidário, embora contrariado como seria de esperar de um misantropo inveterado, vai trazer-lhe os prazeres do amor e a ruptura com a solidão. A mãe da jovem, após uma separação por traição do marido com a melhor amiga (típica situação), entra-lhe pela porta dentro e também ela é acolhida na casa do físico. Ah, mas esta tem um futuro artístico à sua frente, para além de entrar numa relação amorosa com dois dos amigos de Boris (assim se chamava o físico)! E o pai da rapariga, depois de romper com a amiga da mulher, aparece também lá por casa e também ele é recolhido e acaba por encontrar um parceiro homossexual e assumir a sua verdadeira natureza. E tudo acaba num natal passado em comum em que todos estão felizes. Apesar de mais um divórcio do físico, mais um suicídio fracassado e mais um casamento casual e, talvez este!, com algum sucesso mais duradouro!
  Com tudo isto o filme consegue ser magnífico, os espectadores saiem bem dispostos e percebendo que a aceitação dos acasos e das diferenças podem ser essenciais para se ser feliz. 



terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Va de retro Almunia dos diabos!

(RTPNotícias)

  O sistema capitalista é, na verdade, de uma imensa fragilidade! Como é que uma afirmação de um indivíduo pode fazer subir o endividamento e o crédito de um país?
  É certo que este senhor Joaquín Almunia é membro da Comissão Europeia e responsável pelos assuntos económicos e monetários, mas um homem é um ser falível. Pode endoidecer, poder ser possuído pelo demónio, poder ser subornado e querer levar certos países à bancarrota, pode estar embriagado, pode estar drogado, pode ter uma oculta paranóia perversa, enfim, é um efémero e frágil ser humano.
 O sistema capitalista é que cada vez me assusta mais pela sua essência vertiginosa. Tanto pode subir aos píncaros celestiais como descer aos mais tenebrosos infernos. E é neste baloiçar circence que nós todos baloiçamos, mesmo os que raramente sobem e sempre descem.
 São necessários estes flagrantes delitos para termos uma conciência mais clara da situação periclitante em que nos meteram. Va de retro!
   
Economia - Posição de Almunia considerada "pouco prudente" - RTP Noticias

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A oposição em Portugal perdeu a tramontana

(publico.pt)


 Os partidos da oposição uniram-se na passada semana para votarem contra a lei das finanças regionais proposta no orçamento de estado. Em causa estava o financiamento ou não de cinquenta milhões de euros para a ilha da Madeira.
  ESPANTOSO! A que propósito é que o PCP e o BE se unem ao PSD e ao CDS para rejeitar esta lei. Só com um propósito obviamente - levar o governo a demitir-se!
 Eu, que não tenho votado PS, fiquei seriamente irritada com esta posição. Para quê novas eleições neste momento? Para afundar mais o país? Ou pensam que virá algum D. Sebastião para nos salvar? Parece que o mito sebastianista nunca mais abandona este povo...
 Não gostei nada de ver a atitude do BE, a votar a favor do Dr. Alberto João e ainda por cima a rirem-se, os senhores deputados, de forma absolutamente macacal!! E eu tenho votado no BE. Estou envergonhada!
  Claro que o Dr Alberto João aproveitou imediatamente para se armar em mentor dessa desastrada oposição e vir propor uma união para derrubar o governo! O Dr. Alberto João percebeu bem a cegueira do BE e do PCP e até fala com palavras doces (espero que se lembrem  do lobo mau!), admitindo as diferenças ideológicas e tudo...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

«A Cidade», de L.M.Cintra e a caricatura da política



  A peça A Cidade, em exibição no teatro S.Luís em Lisboa, resulta da combinação de excertos de oito comédias do poeta e dramaturgo grego Aristófanes que viveu em Atenas no século V a.c. - Acarnenses, Lisístratra, Paz, Pluto, Mulheres na Assembleia, Nuvens  , Cavaleiros e Aves.
  A palavra «política» deriva da palavra grega «polis», que significava «cidade» e, tendo em conta que as cidades gregas eram cidades-estados, com governos próprios, os conflitos sociais na «polis» correspondiam  à política de um estado, de um país.
  A peça é uma grande brincadeira em que o ridículo e o cómico advêm, em grande medida,  da inversão das regras sociais, isto é, as mulheres reunem-se e decidem mandar e ditar elas as regras - para acabar com a guerra, fazem grave ao sexo com os maridos, para acabar com as injustiças, vestem-se de homens, infiltram-se na assembleia e fazem uma nova constituição, em que, por exemplo,  as mulheres mais velhas e decrépitas têm prioridade na escolha dos homens.
  A brincadeira, sobretudo a que assenta no despudor sexual é, muitas vezes, excessiva e desnecessária, prejudicando a crítica pretendida.
  Noutras situações, o excesso resulta em pleno, como na cena em que o lavrador vai à cidade vender as duas filhas, as duas porquinhas, ou na educação dos jovens - o jovem obcecado pelos seus prazeres, o mp3 e os hifones, nada ouve ou aprende, tal como muitos alunos das nossas escolas.
  Vale a pena o contacto com Aristófanes e fica a vontade de ler as suas comédias agora traduzidas por M. Fátima Sousa e Silva em edição da Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Ainda há alunos como o Pedro Feijó!!!



  Na revista Única(Jornal Expresso), desta semana, vem um artigo de Christiana Martins intitulado «Juventude Inquieta». Interessou-me muito este artigo porque juventude interessada em organizar-se nas escolas, em intervir politicamente e com ideias novas para que os seres humanos sejam mais felizes já há muito tempo que não ouço falar dela.
 Pedro Feijó, o aluno que em 16 de Outubro de 2009, quando o Liceu Camões comemorou 100 anos fez este discurso que podem ver no video, é, hoje, presidente da Associação de Estudantes do Liceu Camões  e diz frases como estas:«Eu não sou o futuro. Somos presente e temos de educar todos para serem presente. Porque não fazemos nada para mudar amanhã, mas para ir mudando hoje.»; «Prefiro ser feliz e estar bem, até poria a vida política de lado se fosse preciso, porque a revolução que queremos fazer é a revolução do bem-estar.».
  Estas são ideias realistas de um jovem do mundo de hoje, que é altruísta, começando por querer ser feliz ele próprio.