segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sócrates na pele de um padre evangelista

  Sócrates decidiu apelar à esperança no PS da mesma forma propagandística e falsamente convicta que usam habitualmente os padres evangelistas.
  Na sua frente, os militantes de Braga pareceram-me estáticos e indiferentes como os carneiros de um rebanho que não têm alternativa senão tragar a erva do campo a que o pastor os conduziu.
  Vi pela televisão e fiquei impressionada! Sócrates é, de facto, um actor espectacular e representa excelentemente aquele papel de padre evangélico. O problema é que o povo se sente à beira de um abismo e todo aquele ênfase de esperança e fé lembra já uma vida extraterrena e mais parece um rito de extrema-unção.
  Não tenho tido vontade alguma de falar aqui do orçamento nem das peripécias rocambolescas que o têm envolvido. (Os dois grupos -  PS e PSD -, liderados por Eduardo Catroga e Teixeira dos Santos, lembram realmente os tempos da guerra-fria com Brejniev e Kissinger a discutir as armas nucleares (comparação do comentarista Luís Delgado), ou, talvez melhor, dois grupos da máfia siciliana negociando a extorsão da «massa» aos pequenos comerciantes e ao povo.)
  O desânimo é grande, a descrença maior ainda! Não há palavras de esperança que valham por mais enfáticas que Sócrates as grite!
  Que tal fazer frente à Europa? À Merkel, ao Sarkozy? O ministro português dos negócios estrangeiros já começou e os franceses não estão a brincar...

 

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Antestreias da 11ª Festa do Cinema Francês - enquanto a crise ferve no caldeirão!


    A 11ª Festa do Cinema Francês tem vindo a apresentar filmes (antestreias) de indiscutível qualidade. E se as distribuidoras portuguesas enchem as salas de cinema portuguesas de filmes americanos,  pelo lucro seguro que lhes darão, vale a pena ir às festas de cinema onde se podem ver muito bons filmes a que posteriormente poderá ser difícil o acesso.
  

  Sandrine Bonnaire é a madrinha da festa. Esteve presente no filme Joueuse, em que é a actriz principal, uma mulher a dias que se torna uma jogadora de xadrez, notável vencedora de torneios, ultrapassando as limitações da sua situação económica, social e familiar. Excelente filme e excelentes paisagens da Córsega. E esteve também no filme Elle s'appelle Sabine,  filme que realizou, sobre a situação em que vive a sua irmã Sabine, uma jovem autista.

    Outros filmes relevantes: Le Concert, de Radu Mihaileanu, uma comédia que penetra a sensibilidade dos mais empertigados, em que a Orquestra Bolshoi (formada por antigos músicos escorraçados da companhia por Brejnev por serem judeus ou por terem tomado posições em sua defesa, músicos que já não tocavam juntos havia trinta anos) vai a Paris, ao Théâtre du Chatelet, tocar Tchaikovsky e deslumbra os parisienses e a nós, obviamente.
    Le Refuge, de François Ozon, uma bela história sobre situações de droga, de maternidade pouco desejada e de reencontro de alguma paz interior.
    Des Hommes et des Dieux, de Xavier Beauvois, sobre a vivência de uma comunidade de oito monges franceses na Argélia, nos anos em que os fundamentalistas islâmicos cometiam as maiores atrocidades sobre aldeãos, estrangeiros, etc., e espalhavam o terror pelo país.

   E muitos mais filmes há ainda para ver!

   

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

«Há um cão vadio...» de Almada Negreiros

  Ontem, na Praça do Município, em Lisboa, a Républica, personagem da encenação teatral do grupo O Bando, declamou uma montagem de textos de autores portugueses.
  De Almada Negreiros, o texto seleccionado foi este:

  

  Não achas, Mãe? Por exemplo. Há um cão vadio, sujo e com fome, cuida-se deste cão e ele deixa de ser vadio, deixa de estar sujo e deixa de ter fome. Até as crianças já lhe fazem festas.
 Cuidaram do cão porque o cão não sabe cuidar de si - não saber cuidar de si é ser cão.
  Ora eu não queria que cuidassem de mim, mas gostava que me ajudassem, para eu não estar assim, para que fosse eu o dono de mim, para os que me vissem dissessem: Que bem que aquele soube cuidar de si!

  Eu queria que os outros dissessem de mim: Olha um homem! Como se diz: Olha um cão! quando passa um cão; como se diz: Olha uma árvore! quando há uma árvore. Assim, inteiro; sem adjectivos, só de uma peça: Um homem!


            De A invenção do Dia Claro, 1921



segunda-feira, 4 de outubro de 2010

100 anos de República - é para comemorar!

  

   Amanhã  comemora-se os 100 anos da proclamação da República em Portugal. António Ventura publicou um livro de postais da época alusivos à Primeira República. Estas fotografias são de alguns desses postais.

  

   Este enterro da realeza aliviou-nos de muita desigualdade e de muito preconceito.


 
  No primeiro postal, França Borges e Afonso Costa vendem o elixir republicano, publicitando simultaneamente o jornal O Mundo, cujo director era França Borges. No postal ao lado, estão os deputados republicanos eleitos em 1910: Afonso Costa, Bernardino Machado, António José d'Almeida, João de Meneses, Teófilo Braga, Alexandre Braga, Cândido dos Reis, A. Luís Gomes, Miguel Bombarda, Brito Camacho, Feio Terenas, Fernandes Costa, Aurélio Ferreira e Alfredo Magalhães.


    O primeiro postal é uma homenagem à Marinha de Guerra, que apoiou os republicanos, e o segundo homenageia os países que reconheceram a República Portuguesa: Brasil, Estados Unidos, Argentina e Suíça.