quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O MUNDO É UM PALCO, (exc. de «Como vos Aprouver», de William Shakespeare)



O mundo é um palco
E todos os homens e mulheres simples atores:
Têm as suas saídas e entradas,
E, em vida, um só homem tem vários papéis,
Tendo os seus atos sete idades. Primeiro o infante,
Berrando e bolsando no colo da ama;
Depois o aluno lamuriento, de sacola
E cara lavada, pela manhã, arrastando-se
Contrafeito para a escola; depois o amante,
Suspirando como um fole, com uma balada triste
Às sobrancelhas da amada; depois o soldado,
De juras estranhas e barba de pantera:
Cioso da sua honra e pronto para a luta,
Procura essa bola de sabão chamada glória
Mesmo na boca de um canhão; depois vem a justiça,
De bela barriga inchada à custa de capão,
De olhos severos e barba bem cortada,
Todo ele é provérbios sábios e lugares-comuns -
- E assim cumpre o seu papel; a sexta idade
Vem de calças magras e chinelos, óculos
Na ponta do nariz, bolsa a tiracolo,
E grevas conservadas da juventude - imensas
Para as pernas mirradas - e o seu vozeirão másculo,
Regressado ao tremor da infância, modula-se
Em chiadeira e assobios; a cena que fecha
Esta estranha e acidentada história
É a segunda infância e total oblívio,
Sem dentes, sem olhos, sem gosto, sem nada.

         Como vos Aprouver (excerto), de William Shakespeare