O projecto CIN RE-MAKE'10, com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, promoveu a recuperação de alguns muros da cidade. José Luís Peixoto participou neste projecto de recuperação urbana com textos poéticos.
Eu e tu, Lisboa. Eu, feito de praças, avenidas, becos, escadinhas, e tu, feita de esperança, olhos a brilhar.Às vezes, quase acredito que és demasiado
nova para mim mas, depois, falas-me daquilo que aprendeste e tenho
de abraçar-te. Talvez assim nos misturemos mais ainda.
nova para mim mas, depois, falas-me daquilo que aprendeste e tenho
de abraçar-te. Talvez assim nos misturemos mais ainda.
Em certos instantes, como
agora, és uma sombra feita
de vozes de crianças e
jardins. Respiro-te, Lisboa,
e peço-te que, por favor
agora, és uma sombra feita
de vozes de crianças e
jardins. Respiro-te, Lisboa,
e peço-te que, por favor
não pares de me seguir.
A cor dos teus olhos. Lisboa
acorda de manhã com o céu.
Eu e um exército de irmãos
somos a ponta dos teus dedos.
Connosco, tocas o dia e, depois
para te aconchegares, estendes
o entardecer sobre ti.
acorda de manhã com o céu.
Eu e um exército de irmãos
somos a ponta dos teus dedos.
Connosco, tocas o dia e, depois
para te aconchegares, estendes
o entardecer sobre ti.
Nasceste líquida, Lisboa. Ainda hoje
há uma parte do silêncio dessa hora
que escorre por este tempo. A tua idade
é feita de vidro. Nos seus muros
transparentes, misturas o rio com
o oceano. Ainda hoje, fonte, continuas
a nascer.
há uma parte do silêncio dessa hora
que escorre por este tempo. A tua idade
é feita de vidro. Nos seus muros
transparentes, misturas o rio com
o oceano. Ainda hoje, fonte, continuas
a nascer.
Abres o livro onde
está escrita a nossa
história. Aqueles
que o lerem serão
capazes de
acreditar que nunca
existimos,que
nascemos da
imaginação de um
escritor ou de uma
cidade. Sorrimos perante essa ideia,
Lisboa. Temos
lábios. Utilizamo-los
para beijar-nos.
está escrita a nossa
história. Aqueles
que o lerem serão
capazes de
acreditar que nunca
existimos,que
nascemos da
imaginação de um
escritor ou de uma
cidade. Sorrimos perante essa ideia,
Lisboa. Temos
lábios. Utilizamo-los
para beijar-nos.
De onde chegas,
Lisboa? Cheiras a Brasil
e a Luanda, cheiras
a música e a chá.
Na praça, os pombos
são o contrário
de uma explosão,
trazem pedaços de ti,
devolvem o céu que
emprestaste ao mundo.
Sentas-te num banco
de jardim e não
esperas. Sento-me
ao teu lado, Lisboa.
Podíamos perguntar-
nos onde está a noite
quando é dia, mas não
o fazemos. Sabemos
que a noite está sentada
mais adiante, noutro
banco de jardim.
Conversamos com
ela em pensamento.
Procurem estes muros na Rua da Imprensa à Estrela, na Avenida de Ceuta e na Rua José Gomes Ferreira.
Os muros foram imaginados e pintados por alunos do IADE, ETIC, Faculdade de Arquitectura de Lisboa, Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Universidade Católica do Porto e Escola Superior Artística do Porto.
Sem comentários:
Enviar um comentário