(publico.pt)
Entre a estreia do Filme do Desassossego, de João Botelho, e o desassossego da conferência de imprensa do primeiro ministro e do ministro das finanças, passámos a noite de ontem.
O Filme do Desassossego é um filme muito belo: as imagens de Lisboa (a Baixa, o Terreiro do Paço e o Cais das Colunas), a interpretação do actor Cláudio Silva e dos outros actores, a voz de Carminho, o texto de Pessoa, tudo no filme me agradou. No entanto, o texto do Livro do Desassossego, de Bernardo Soares (heterónimo de Fernando Pessoa), é um texto paradoxal. O narrador observa a vida de um lado contrário àquele em que, normalmente, as pessoas se colocam e, portanto, o desassossego, a inquietação, o espanto, apodera-se do leitor. O espectador do filme sente também esse desassossego, essa estranheza.
Por coincidência, também as notícias do governo causaram nos ouvintes grande inquietação e desassossego. Afinal, o governo seguiu as orientações dos agoirentos economistas do PSD (Mira Amaral, João Salgueiro, Nogueira Leite, etc.) e anunciou cortes nos salários da Função Pública, aumentos nos descontos para a CGA, no IVA, etc. Ninguém falou na redução de despesas com chefias de empresas públicas, nos prémios, nos automóveis de luxo que lhes são atribuídos, etc., etc. É a Função Pública que gera o ódio dos economistas e há que aplacar esses ódios. A especulação capitalista está demasiado atenta às opiniões desses economistas de direita e o governo tem medo disso.
E assim a noite de 29 de Setembro ficará lembrada como noite de grande desassossego, sobretudo por todos os paradoxos que estão à espreita.
Bem visto.
ResponderEliminarBem visto.
ResponderEliminar