terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

«A Cidade», de L.M.Cintra e a caricatura da política



  A peça A Cidade, em exibição no teatro S.Luís em Lisboa, resulta da combinação de excertos de oito comédias do poeta e dramaturgo grego Aristófanes que viveu em Atenas no século V a.c. - Acarnenses, Lisístratra, Paz, Pluto, Mulheres na Assembleia, Nuvens  , Cavaleiros e Aves.
  A palavra «política» deriva da palavra grega «polis», que significava «cidade» e, tendo em conta que as cidades gregas eram cidades-estados, com governos próprios, os conflitos sociais na «polis» correspondiam  à política de um estado, de um país.
  A peça é uma grande brincadeira em que o ridículo e o cómico advêm, em grande medida,  da inversão das regras sociais, isto é, as mulheres reunem-se e decidem mandar e ditar elas as regras - para acabar com a guerra, fazem grave ao sexo com os maridos, para acabar com as injustiças, vestem-se de homens, infiltram-se na assembleia e fazem uma nova constituição, em que, por exemplo,  as mulheres mais velhas e decrépitas têm prioridade na escolha dos homens.
  A brincadeira, sobretudo a que assenta no despudor sexual é, muitas vezes, excessiva e desnecessária, prejudicando a crítica pretendida.
  Noutras situações, o excesso resulta em pleno, como na cena em que o lavrador vai à cidade vender as duas filhas, as duas porquinhas, ou na educação dos jovens - o jovem obcecado pelos seus prazeres, o mp3 e os hifones, nada ouve ou aprende, tal como muitos alunos das nossas escolas.
  Vale a pena o contacto com Aristófanes e fica a vontade de ler as suas comédias agora traduzidas por M. Fátima Sousa e Silva em edição da Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

Sem comentários:

Enviar um comentário