terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Um poema (excerto), de Gonçalo M. Tavares



Sem ARROZ não há filosofia, portanto o arroz é a filosofia,
são as ideias, as teses, os argumentos, as Palavras.
Tudo o que se escreve não se escreveria se não fosse tanto o
arroz como a irmã alface a irmã carne do lombo e o irmão peixe.
Portanto: tudo o que se escreve, não é alguém que escreve,
mas o arroz.
Uma fórmula síntese:
o arroz, esse incansável escritor! O Trigo, o pão, e outros
incansáveis escritores.
Outra síntese: Foi o Trigo que escreveu tudo: desde Homero
até BHAGAVAD-GUITA até Joyce e até sempre.
A princípio não era o Verbo, era SIM o Trigo, o Arroz.
Sem arroz não há verbo.
Há primeiro Fome e depois Morte, apagamento súbito.
E os Mortos não escrevem, ou se escrevem não se vê.
Porque os alimentos são, acima de tudo, os maiores amigos;
morrem, a cada dia, por nós: o ARROZ é, pois, o grande sacrificado.
E a alface, por exemplo.


Investigações.Novalis, de Gonçalo M. Tavares



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