O senhor Odd Horten, um maquinista norueguês de 67 anos, reforma-se.(A reforma é aos 67 anos na Noruega.) Os colegas de trabalho fazem-lhe uma festa de homenagem, oferecem-lhe uma miniatura de locomotiva, mas a alegria de Odd não é nenhuma. (Lembram-se do filme «35 shots de rum»? - podem ler o post deste filme se pesquisarem neste blogue.)
O senhor Odd está receoso e distante, como se não soubesse bem o que se iria passar a seguir. E, de facto, todo o filme passa a ser o carpe diem. Penso que foi essa a ideia do realizador Bent Hamer - colocar um homem, com todas as horas do dia à sua disposição, num país em que a comunicação é difícil, cada personagem parece uma estátua de gelo, a neve cai constantemente, o vestuário é pesado, as ruas são perigosas pistas congeladas, os cafés são sorumbáticos e misteriosos, enfim, o isolamento e a solidão decoram a paisagem.
Horten passa, com um aspecto impassível e resignado, pelas cenas que se sucedem , isto é, pelas situações esquemáticas e estranhas que chegam até ele: uma criança que os pais deixaram sozinha em casa e que exige que Horten lhe faça companhia até adormecer (precisamente enquanto, no andar de cima, decorre a sua festa de homenagem); uma amiga solitária que lhe dá de jantar a horas tardias e que nem se senta à mesa com ele; uma comerciante de tabaco e de cachimbos (Horten fuma incessantemente cachimbo, mais parecendo um velho marinheiro) que lhe dá, casualmente, a notícia da morte do marido, um companheiro de piscina de Horten, e, em cuja loja, entra múltiplas vezes um velho esclerosado que perde os fósforos assim que chega à rua; um idoso que está caído numa rua em Oslo (a cena mais interessante do filme) que o convida para dormir em sua casa e lhe revela as suas idiossincrasias, como gostar de conduzir automóveis com os olhos vendados.
A novidade da vida de O'Horten é que tem tempo para se deixar estar, para observar, não se rala com coisa nenhuma, nem com as burocracias, nem com as extravagâncias, nem com as injustiças, nem... O mundo é assim...
O New York Post diz que este filme é «uma pequena obra prima de humor». Eu direi que se trata de um humor fleumático, à inglesa. O expectador vai esboçando sorrisos, sorrisos semelhantes ao sorriso do senhor Horten na imagem da fotografia, em que segura na molengona cadela do amigo inventor que morreu enquanto conduzia o seu automóvel de olhos vendados.
Fiquei assustada com a noruega. Cá no sul, a vida é mais simpática!
Interessante.
ResponderEliminarFelizmente estamos no sul da Europa, mais pobrezinha, mas mais humana.