segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Dois poemas de Joan Margarit

Empilhando lenha

O homem costuma recolher do bosque
os troncos caídos com a tempestade.
Empilha-os nas traseiras da casa.
De cada um recorda
o que o fez cair e onde o recolheu.
Nas noites frias, a contemplar as chamas,
vai queimando oque resta doque ama.


O vendedor de rosas

Solitário e furtivo, o homem do ramo
anda por locais nocturnos à procura de casais.
Encontrei-o nas ruas ao pé da Rambla
com umas rosas sem cheiro a rosas
numa noite que não tem cheiro a noite.
E perdi-me pelas traseiras da vida.
Uma mulher na sombra que não és tu
roubou-te os olhos e chora. A cidade
é uma exacta e monstruosa cópia.
Como se o Cupido já estivesse velho,
passa cuspindo o vendedor de rosas.
Enquanto se afasta penso: ao teu amor
não lhe perdoes nada. Nem o seu final.

 No epílogo, Joan Margarit explica o título do livro - Casa da Misericórdia -, dizendo que a poesia  é uma espécie de Casa da Misericórdia, uma vez que, segundo ele, «um poema   talvez sirva para ajudar a suportar a dor e as ausências».

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