terça-feira, 26 de janeiro de 2010

La Musica, de Marguerite Duras e os equívocos da vida conjugal


 La Musica, de Marguerite Duras, com a encenação de Solveig Nordlung, é uma peça de curta duração - uma hora apenas -, mas incisiva e profunda como é qualquer obra da autora.
 Num hotel em reconstrução (os espectadores interrogam-se inicialmente sobre o que andarão aqueles dois operários com fatos de macaco salpicados de tintas por ali a fazer, e uma caixa de ferramentas inusitada sobre a mesa da sala...), um homem e uma mulher, divorciados legalmente ao fim de dois anos de separação, falam sobre os equívocos que, enquanto estiveram casados, lhes provocaram sofrimento e os levaram à separação.
  Trata-se de uma muito interessante reflexão sobre a incomunicabilidade, sobre os silêncios,  sobre os direitos de cada uma das pessoas que formam o casal (ainda que esses direitos possam parecer estranhos e absurdos) e sobre a realidade banal que pode esconder-se por detrás das aparências mais extravagantes.
 E se nos espantamos perante uma separação que ocorre, mesmo numa relação em que o amor ainda está vivo, comprendemos também que, em cada um daqueles seres, existia o desejo de conhecer outras pessoas, de saber como seria o amor com outras pessoas. No fundo, são também as limitações de um casamento que estão aqui representadas.
  O hotel em reconstrução pode significar uma reconstrução das situações vividas pelo casal para melhor as entenderem. Não implica que a relação se restabeleça.

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