segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

«No teu deserto» - um diário das arábias


 No teu deserto, o último livro de Miguel Sousa Tavares, é, como o subtítulo diz, quase um romance. Quase um romance porque se desenrola como um diário de uma viagem feita ao deserto do Sahara em 1987, narrando os acontecimentos diários desde a partida de Lisboa (de Belém como os antigos navegadores), continuando com o embarque em Alicante, a viagem de barco até Argel no suposto Ciudad de Oran, as peripécias à chegada a Argel, o percurso através do deserto num jipe UMM Alter II, o reembarque em direcção a Gibraltar e terminando no regresso a Lisboa.
 Li este livro porque também fiz uma viagem de jipe pelo deserto do Sahara, no seguimento desta viagem de que fala Sousa Tavares e de outras que ele fez e que prepararam as viagens seguintes organizadas pela revista Grande Reportagem. E sabia da morte da guia de viagens que penso ser a personagem que acompanha o narrador e a quem Sousa Tavares dedica o livro. 
 Há momentos muito interessantes nesta obra: a corrida louca no jipe de Málaga (terra de Picasso) até Alicante, as negociações com os árabes (o bakshish) e as suas trafulhices, a tempestade de areia, o encontro com os tuaregues junto ao poço (também parei junto a este poço) e alguns momentos de ternura e companheirismo com a Cláudia (o leitor apercebe-se de que aconteceu «quase um romance»).
  Gostei muito desta frase: «Escrever é usar as palavras que se guardaram: se tu falares de mais, já não escreves, porque não te resta nada para dizer.» 

 
   Este foi o poço que encontrámos na viagem que fiz pelo deserto do Sahara, em Abril de 1995.

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